Queridinha

terça-feira, 9 de abril de 2024

Diário de bordo - A cegueira



 Eu estava ansiosa, a jornada me deixava às vezes impaciente, mas Eros e Carmem me ensinavam a arte da persistência, depois de um banho de rio, e de todas as aventuras, eu já estava me acostumando com a viagem, estávamos no meio do caminho, essas terras de Ganesha nos deixam sempre atentos, há sempre surpresas e nem sempre estamos preparados para ela.

A noite as sombras pareciam brincar com a nossa ingenuidade e com o nosso cansaço, a lua estava minguante e estávamos prontos para dormirmos quando um ruído nos deixaram mais atentos, a fogueira estava ainda com resíduos e um pouco de brasas quando a fogueira novamente iluminou o nosso acampamento, Eros e Carmem e eu saímos da cabana e nos deparamos com uma sombra, ela parecia alguém com um tecido preto, um capuz mas quando nos aproximávamos ele evaporava e uma voz rouca nos alertou. Saem ao amanhecer , as trevas também caminham a luz do dia.

Aquela cena parecia tão enigmática como o ser que nos alertou, ao acordarmos estávamos cegos, não conseguíamos enxergar nada, nem uma sombra e nem uma névoa, estávamos cegos, o desespero tomou conta de mim, e Eros e Carmem calmos me trouxeram uma bela lição.

__ Irmã, lembre-se que há outros sentidos dos quais ainda dispõem , essa cegueira é passageira.

Eu respirei, e me sentei, respirei e me acalmei, bem, era uma cegueira momentânea até aonde eu sei, era como um leve conjuntivite, então, nos concentramos no nosso espaço, era uma terra que eu não conhecia e não estavam absolutamente perdida , nós, estávamos presos a uma situação estranha, mas precisávamos sair dali. 

Encontramos algumas varas e começamos a caminhar, em pouco tempo eu já estava descobrindo um outro mundo, os sons, o tato já estavam bem acenturados em mim, eu já conseguia sentir o gosto estranho que o vento trazia, o som de pássaros e fontes de água já eram sons habituais , andamos por meia hora, apalpando o caminho, a mágica de Carmem nos auxiliaram quando desmontamos a cabana e deixamos alguns rastros pelo caminho.

De repente um frio, um calafrio me fez parar, eu podia sentir os seres das sombras por perto,

As sombras nos carregaram, nos rodopiavam, nos falavam ao ouvidos palavras de ordem, palavras de desânimo e muitas coisas que nos assombravam a alma, palavras que poderiam nos paralisar e nos deixar apáticos e sem vida, eram sensações de solidão, eram sensações de frio intenso, as minhas mãos estavam frias, eu poderia sentir meu coração acelerar, eu cai com a agitação desses seres das sombras, mas eu me ergui e continuei a caminhar.

Eros e Carmem me disseram para eu me proteger através da mentalização da barreira de luz a minha volta e isso me deixou mais leve e os calafrios passaram, o som de uma cachoeira nos alertou e paramos por um tempo até sabermos a que caminho seguir.

Eros então, a beira do rio lavou os seus olhos e então, a sua visão voltou ao normal, Carmem e eu fizemos o mesmo, já era noite quando novamente armamos a cabana.

Às vezes somos cegos videntes, não conseguimos perceber o que está a nossa frente, estamos cegos em muitas questões, a empatia é um ato de caridade e sem ela não podemos avançar pelo caminho e não amadurecemos quando a deixamos de lado.

A cegueira moral nos é mais nociva do que podemos imaginar, deixamos de perceber os problemas e não conseguimos evoluir.

Somos cegos quando não olhamos para o nosso interior e não nos aprofundamos em sentimentos que deveriam ser monitorados , como o egoísmo, o orgulho , a vaidade.

Há sombras dentro de nós quando estamos cegos, estamos cegos quando não ajudamos o outro e quando não nos percebemos e também estamos cegos quando nos mutilamos, quando nos ferimos porque não aceitamos a nossa condição de seres falíveis.


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Seres alados!!

Seres alados!!
Somos alados quando temos boas atitudes.As minhas asas quebram quando minto, perco penas quando fico triste mas nunca perco a fé porque sei que vou voar para a eternidade.