Queridinha

sábado, 10 de agosto de 2024

Depois de tudo - retratos de um abuso

 


Depois de tudo, os meus olhos ainda estalam.

A minha boca se cala, e as minhas dores ainda estão aqui.

Presa nas lembranças, nas palavras que não foram claras, elas apenas estão guardadas.

Um crime , uma dor que não se cala dentro e fora de mim.

Suas mãos ainda me machucam e me prendem à um passado que não é bom.

Sentada na beira do caminho, eu procurei a culpa dentro de nós dois.

Mas a sua culpa ainda me atormenta.

Os pesadelos não cessam e me calo diante das lembranças que eu deixei ficar.

Não me culpo pela revivência , ela é o que me mantém acordada.

Triste e só.

De olho no canto da parede.

Meus passos longos que os seus passos alcançaram.

Deixou dentro de mim , marcas doidas.

A tristeza não me causa dor, me causa tempestades.

A dor vem de graça, com toques pálidos.

Eu queria morrer depois de tudo.

Mas a morte não será o fim.

É só uma reação dolorida depois de tudo.

Mas eu estou aqui, depois de tudo.

Calada, sem voz e sem cor.

Eu perdi parte de mim e deixei que a vida levasse todo resto.

No fim de tudo, sobreviver , foi o que nos uniu para sempre.

Diante da janela eu vivo a te procurar.

Para fugir de você, mas ainda está aqui dentro de mim.

Nos pesadelos, nas constantes inconstâncias.

Sempre presa, atestando a sanidade.

Mas um dia, eu compreendi que nada deve ficar.

Deve ser apenas uma lembrança ruim.

E depois de tudo.

Cresci pensando que o que aconteceu não foi culpa minha.

Foi a sua dor que causou a minha.

Depois de tudo, eu segui em frente.

Mesmo com tudo que ficou... eu ainda estou aqui.



Retrato e relato verbal de alguém que sofreu abuso sexual durante a infância

Cinquenta anos



 O amor é um toque leve nos corações desavisados.

Nos inunda com a suavidade das memórias.

Deixa o coração com a doçura do céu.

E o tempo em que permanece em e nós.

Preenche o restante do corpo.

Como quem possui o outro condicionalmente.

São cinquenta anos, cuidando um do outro.

E esse tempo se estende ao infinito.

Filhos , netos e as muitas formas de amar.

Criou dentro de tudo , o TODO.

As belas criaturas citadas nas histórias de fadas.

Encarnadas num lar de muitos quadros retratando memórias.

Lembranças que doem, que alegram e de cuidado.

Viagens imaginárias e imaginadas, vividas e moldadas para serem eternas.

Cantos longos, sermões bíblicos e risadas incontroláveis.

Um lar com objetos vivos, vividos e compartilhados.

Num canto da parede a imagem de uma família.

De muitas famílias deixando crescer o que nasceu em dois nós.

E assim são cinquenta anos.

Com suas mensagens enigmáticas guardadas num livro familiar.

Amizades, ponte que se construiu com laços e nós.

E assim o caminho se torna de todos nós.

Um dia , tudo que se foi, volta como as nuvens de chuva.

No aconchego do lar, os colos cheios de vida, ombros ocupados com abraços.

Mãos tocando as mãos .

Pele tocando a pele.

Família é como grandes células já crescidas que acrescentam histórias.

E vão formando outras tantas cores, outras vidas, outros gostos.

Construímos amores ao longo do caminho.

E peregrinamos numa estrada vazia.

Nas paisagens selvagens e na volta para casa.

Todos estão ali, prontos para outras histórias.

Em outras páginas, outras estrelas,

Mas todos num só amor.



Pelos cinquenta anos de casamento de meus pais

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Camuflagem social nas redes sociais

 


Os dias passam lentamente, as vezes nem percebemos que o tempo nos aprisionam e nós na ânsia de terminar o dia bem, acrescentamos o cansaço e a esperança no dia seguinte.

Quando o mundo parece louco e as pessoas estão cada vez mais distraídas com as coisas efêmeras buscamos entender o que se passa além do nosso olhar comum.

Nos arriscamos em verdades incompletas , deixamos que o mundo nos perceba e depois disso deixamos que ele nos domine porque ainda desconhecemos as nossas imperfeições, bastaria um olhar mais profundo e nos reconhecermos ainda em processo de aperfeiçoamento.

Aprendi que as redes sociais nos pega pelo braço e deixamos que esse mundo virtual seja mais real do que realmente somos, tudo que vemos diante dos aparelhos eletrônicos passa a ser verdadeiro para nós, mas será?

Pessoas que clamam por visualizações, e curtidas, correm para serem vistas e nem se dão conta que estão sendo monitoradas e persuadidas a fazerem como a maioria faz, e se tornam comuns, com suas aspirações comuns e assim, fazem o que todos fazem e perdem a sua personalidade para atenderem ao ego, aos caprichos de um mundo virtual onde as cores são mais intensas e as palavras são hipnóticas.

E somos completamente virtuais, somos pessoas disfarçadas , enquanto nosso Eu verdadeiro está tentando se entender, a maioria de nós estamos buscando aceitação e credibilidade, e será que deixamos algo para trás que realmente nos identificam como pessoas reais, de carne e osso?

As nossas relações pessoais, digo física estão cada vez mais raras, porque estamos focados no que outro vê e deixamos que se questionem por nós.

O que precisamos fazer para que as nossas vidas sejam reais e não uma imagem bela para que os outros pensem que são, infelizmente queremos que os outros tenham uma percepção sempre positiva, mas essa positividade pode existir mas ela é constante?

A positividade não é sinônimo de estarmos sempre zen com tudo, mas apenas equilibrados quando as coisas negativas acontecem e o ideal é ser positivo diante das possibilidades que não acolhe as nossas expectativas, nem tudo vai ser bom e nem tudo vai ser ruim, há um equilíbrio astral em nossas vidas mas tudo tem a base nas nossas escolhas diante das questões que a vida nos apresenta.

Se as pessoas fossem mais sinceras consigo mesmas como seria o mundo?

Usamos as camuflagens sociais para que a nossa vida social seja bem aceita, usamos para que sejamos sociáveis e a nossa vida não seja entediante, mas há um momento em que todos nós merecemos um descanso e fiquemos mais introvertidos, é quando passamos a reconhecer que somos mais do que aparentamos, reconhecemos que nosso aprimoramento moral é mais importante do que estar fingindo que está tudo bem, precisamos estarmos realmente bem.

Usamos a camuflagem social para que haja uma convivência "normal". quer dizer, que a nossa opinião sincera não agrida o outro e não criamos atritos desnecessários.

Não precisamos dizer que estamos tendo um "dia péssimo"quando estamos tendo um dia ruim, apenas dissemos com gentileza, "Está tudo bem ", afinal, seria muito estranho dizer essa realidade indesejável toda vez que alguém perguntar, então usamos dessa " mentirinha" como camuflagem social, esse é apenas um exemplo do que vem a ser a camuflagem social.

Sorrir sem querer sorrir, chorar para mostrar que se importa, ser agradável com alguém que não tem muito afeto, ou mesmo que não goste, tudo isso é camuflagem social, porque a nossa vida social depende das nossas ações disfarçadas e agradáveis para com todos a nossa volta, ser agradável é bom, e podemos sermos mais duros quando a situação merece uma certa dureza, escolhemos sermos assim para que todos possamos conviver com uma certa cordialidade.

Sermos sinceros é primordial, a auto-confiança, o nosso estado de "espírito" saudável é essencial para que nos tornemos pessoas melhores, e com o passar do tempo a camuflagem social passa a ser cada vez mais rara e passamos a sermos como somos sem muito esforço, o viver de aparências passa a ser uma coisa estranha e ser uma pessoa genuína é sem dúvida um ideal real, portanto, tudo tem um equilíbrio e nós como seres que precisam viver coletivamente, passamos a atender a sociedade com mais dinamismo e sermos mais solidários.

As redes sociais são apenas uma ferramenta para aproximarmos uns dos outros e não como uma fonte inesgotável de mentiras e disfarces, na verdade, ela passou a ser uma fonte de renda e que a cada dia fica mais chato e visivelmente falsa o que podemos considerar interessante porque aprendemos a nos reconhecer e entender como a vida está passando rapidamente e como temos nos estressado e nos tornamos mais ansiosos, vulneráveis e depressivos, ou melhor, as redes sociais nos leva aos extremos e os cuidados com nossas escolhas deixa nítido a nossa responsabilidade com as nossas ações e aceitação das reações diversas vindas dessas nossas escolhas.


Livro de contos - E se...

 



Era uma vez um livro, era uma vez um leitor curioso e era uma vez um narrador ainda mais

curioso.

Pedro era um leitor assíduo e incansável, era um menino de dez anos que se deliciava ao ler

histórias de aventuras, um dia ao visitar a biblioteca encontrou numa estante quase vazia um

livro sem nome, capa preta e isso o motivou a folhear suas páginas amareladas e empoeiradas.

Abriu o livro timidamente, mas ao encontrar as primeiras palavras, sentiu algo estranho, as

palavras começaram a se movimentarem e quando se deu por si, lá estava ele, dentro do livro.

As figuras estavam paradas o que era esquisito afinal, ele estava dentro de um livro de

histórias o que já era estranho estar ali.

Pedro esfregou os olhos sem acreditar no que via, pássaros parados no ar, nem uma leve brisa,

as árvores tinham cores foscas, as roupas estendidas no varal pareciam pedados de papel, o

cabelo arrepiado da velhinha na janela e os gatos suspensos no ar.

Um detalhe lhe chamara a atenção, os personagens estavam com rostos assustados e olhos

muito arredondados, e sem narizes. Pedro coçou a cabeça sem entender o motivo dele estar

ali, o livro era por acaso um livro mágico?

Ele caminhou por um longo tempo e tudo continuava parado, mas algo no horizonte o chamou

a atenção, era um homem alto que balançava a cabeça, braços e pernas, era um daqueles

bonecos de posto?

Pedro andou em sua direção, mas seu movimento era tão devagar que logo se cansava, era

preciso respirar para continuar.

Pedro notou bem a sua frente um menino olhando para uma pipa no céu, que deveria estar

voando, mas ela estava ali parada, ele pensou estar vivendo um pesadelo, mas ele se sentia

bem acordado.

O menino nem piscava, não tinha nariz, apenas olhava para a pipa intacta no ar, Pedro curioso

se atreveu a perguntar, ele não esperava resposta alguma, mas perguntou mesmo assim:

__ Quem é você?

O menino para a sua surpresa respondeu:

__ Eu não sei, normalmente eu brinco com a pipa mas de repente tudo mudou, alguém parou

de descrever o que eu tinha que fazer.

__ Mas como isso é possível?

O menino disse ainda mais lentamente:

__ Estamos numa história, você não acha que as cenas deveriam estar em movimentos? Você

acha que ficar parado não cansa?

__ Há quanto tempo está assim?

__Desde que aquele louco ali chegou!


Pedro entendeu que não poderia ficar ali esperando mais uma resposta lenta do menino e

caminhou até o homem, seus movimentos causavam uma confusão mental no menino que

ainda acreditava estar vivendo num pesadelo.

__Senhor?

O homem olhou para o menino com um certo espanto.

__ O que foi menino?

__ O que está acontecendo aqui?

__ Nada, não está percebendo?

Pedro olhou para o homem que tinha um olhar vibrante, olhos pretos e grandes que pareciam

saltar do rosto.

Ele percebeu que assim como o menino da pipa. não tinha nariz, então ele tocou o próprio

nariz para ver se ainda tinha um nariz. Que alívio, ele tinha um nariz.

Mas por que o nariz seria importante para aquele momento, tudo já não era estranho? Ter um

nariz ou não, não parecia fazer diferença.

Pedro olhou para o céu e teve uma brilhante ideia e logo fez uma pergunta ao homem, o único

que estava ali e que se movimentava livremente:

__ O Senhor pode me dizer quem é o Senhor nessa história?

__ Eu não faço parte dessa história, eu sou o narrador, eu estava cansado de ficar só olhando.

Pedro ficou parado olhando para o narrador da história sem entender, mas como era um

menino experiente e aquela situação o deixou indignado e disse com uma voz firme:

__ O Senhor é algum maluco? Era só o Senhor narrar a história em primeira pessoa e acabaria

logo com essa confusão. De quê adianta ser o narrador se a história não pode começar e nem

terminar?

O homem de repente parou, ficou olhando para o menino inteligente e pequeno, sorriu e abriu

os braços para um abraço.

Voltaram caminhando para o início do livro.

O homem saiu pelas bordas do livro junto com Pedro que agora estava novamente na

biblioteca com o livro na mão.

O livro já não era o mesmo e nem Pedro e por maior que fosse a maluquice e que pensava em

ter vivido um pesadelo, ainda não conseguia racionalizar aquela situação, ode já se viu um

narrador se cansar de contar uma história?

Ele fechou o livro e olhou mais uma vez a última página para ter certeza que as palavras ainda

estavam ali, leu em letras miúdas no finalzinha da folha uma pergunta que o fizera pensar por

um longo tempo.

Como seria a sua vida sem a grandeza e a imaginação de um grande narrador do qual criou

tudo que existe?

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Do tempo em que eu senti saudades



 Os seus olhos eu vejo o amanhecer.

E em seus suaves toques dos dedos eu me encontro segura.

E as estrelas me indicam onde eu quero estar.

Meu coração cobre os buracos que o tempo deixou escapar.

Nesse compasso louco das horas,me perco procurando seu olhar.

Mas agora eu só quero descansar, olhando para o horizonte.

Sentir o doce som da sua voz, e ali catando os cacos e deixar você partir.

Eu perdoo o amor por estar tão longe da ponta dos meus dedos.

Sem contar as horas,me recolho ao meu destino longe das estrelas.

Que um dia eu colhi para iluminar suas noites.

E no olhar distante,eu chorei por horas a distância do meu coração até chegar ao seu.

E se eu esperar  mais um pouco , talvez você consiga sentir o meu sorriso.

Tímido e sem graças, buscando a luz nas gretas da porta.

Esperando que me acolha com os braços longos para um abraço.

Assim que a porta abrir eu não vou estar mais me esconder.

Vou me atrever a curar as suas dores.

Deixar que o canto da brisa te acorde para um novo dia.

Despertando em você a sua coragem de prosseguir.

Não há mais pedras nem espaços vazios na sua estrada.

A beleza do caminho te deixou mais forte.

E eu tímida para qualquer abraço ,mesmo na espera.

Dos seus braços longos .

Quero deixar claro que nem a pequena e falha memória me desencantou de pensar em você.

De desejar a você a mais doce melodia de amor.

Que todas as cores sejam para colorir seus dias .

E nas escuras noites eu possa te velar.

Deixar a que o destino faça seu trabalho e nas esquinas do ano 

Possamos celebrar o que deixamos para trás.

E o que nos mantiveram seguros.

Não quero perder a chance dos adeus e nem das palavras buscando significados.

É só pelo prazer do existir.

Que se ganha amores.

Se as dores que carrega dentro de você te fazer parar.

Que eu possa estar contigo para devolver para você

O amor que  com seus olhos me trouxe o afeto.

Com algumas palavras e com os pontos finais.

Deixo para você a minha memória, a minha breve passagem pela vida.

Simples e leve ,deixo a minha vida cumprir seu papel.

O destino se encarrega do reencontro, das queixas e das efêmeras riquezas.

Os sentidos que  deixam em você a sensação de passagem.

Eu estou de partida , e reclamo a ausência do tempo.

Das horas em que o pensamento é um delírio.

Faz tanto tempo que a saudade se apresenta como uma irmã .

Deixe que o tempo nos faça perto e nos esqueçamos que a distância é apenas aparente.

De todas as falas , a sua lembrança é a melhor parte de mim.

Me distraio com as cenas inventadas e das falas repetidas de um sonho comum.

Já não existe desculpas,o tempo nos afasta por um tempo.

Então,deixe que ele insista em nos mantermos com nossas memórias.

E depois vamos contar uma outra história.

Procuro o culpado da saudade.

E a saudade que morre e machuca os corações desavisados.

Deixemos para lá os dias cinzentos e cubramos os nossos corações com dias ensolarados.

Nem toda saudade ,e nem toda culpa.

Nós dois sabemos que a saudade nos mantém o melhor de nós.

Dentro de nós dois.

Fique sabendo mais!!!!!

Seres alados!!

Seres alados!!
Somos alados quando temos boas atitudes.As minhas asas quebram quando minto, perco penas quando fico triste mas nunca perco a fé porque sei que vou voar para a eternidade.