Pergunta-se muito sobre o feminismo e não há pouco assunto, há muito o que dizer.
Quando lemos livros, textos que se refere ao feminismo, algumas pessoas torcem o nariz, fazem de conta que sabem de tudo, não, não sabemos de tudo, porque precisamos pensar na nossa própria história.
Quando aprendemos no colégio sobre a história do Brasil, sobre a escravidão, tudo fica muito raso, é preciso nos aprofundarmos, é preciso cavar fundo para encontrarmos respostas consistentes, porque merecemos a verdade.
O feminismo negro, me pegou pelo braço e me virou, eu me encontrei, achei o meu lugar no mundo, não bastava para mim escrever um livro infantil sobre violência doméstica, eu queria saber mais e vivenciar essa grandeza que é saber mais.
Procurei dentro de mim a minha ancestralidade, a minha essência não como uma mulher, mas como alguém que quer fazer algo que ajude nessa mudança histórica.
O feminismo não é apenas um movimento que nos proporciona saberes sobre a história das mulheres, nos trazem um propósito, nos traz a filosofia profunda de que somos fazedores e não simples leitores da vida, construímos estradas para outras mulheres.
Quantas mulheres anônimas se encontram num lugar obstruído pelas crenças que nos limitam ações?
Quantas coisas podemos viver além da paisagem que vemos agora?
E estou bordando um painel de Frida Kahlo, e a medida que o trabalho vai tomando forma me dou conta de que quantas mulheres não conhecem sua ancestralidade, e quantas outras mulheres estão se procurando através de suas próprias vivências, estão bordando a sua vida com cores e linhas diversas, com sua vida intensa e repleta de histórias, suas, das suas mulheres da família, das filhas, amigas , o Brasil está cheio de mulheres lindas e majestosas, histórias pessoais, mulheres que pintam sua própria história com tintas invisíveis?
Quando falamos da ancestralidade no feminismo, falamos da nossa história feminina, porque somos filhas de outras mulheres que foram geradas e que todo conhecimento feminino foi aprendido e repartido para todas nós, falar de ancestralidade é falar de gratidão pelos que vieram antes de nós, de como elas nos moldara, e nos ensinaram que somos fortes e capazes de vivermos sendo nós mesmas apesar de toda perseguição, foram genocídios que mataram milhares de mulheres que eram herdeiras desse poder, dessa ânsia de serem quem são, e que herdamos delas, esse poder de mudar as nossas vidas pelas escolhas certas, a ancestralidade é esse Universo que construímos dentro da gente, somos todas elas em nossa mente, em nossos átomos, porque somos um amontoado de células de todas elas.
Falar de ancestralidade, é respeitar a nossa história, é resgatar a nossa história e nos orgulharmos disso, das nossas conquistas, não que cria uma grande nação sem respeitar a ancestralidade.
O Brasil foi maltratado desde o primeiro momento, os europeus trouxeram com eles um poder do esquecimento, e trouxe a violência, não só a violência física que matou aos milhões, trouxe a violência do medo de sermos quem somos, nos trouxeram preconceitos que nunca foram nossos, a herança europeia foi a forma triste de tratar o outro de forma discriminatória, ensinou que lugar de gente preta é onde exitem correntes, não apenas uma corrente física, mas imaginária, lembremos que até hoje é assim, e esta história há de mudar, a grande avalanche de conhecimentos da nossa ancestralidade, há cultura africana sendo desvendadas, há arte, há uma constante luta e isso não é só um momento, é o recomeço!!!
Quando me lembro das minhas avós, me lembro das lutas internas, delas quererem o melhor para seus filhos, das máquinas de costuras, e muitas vezes das palavras de dor de serem mulheres, mas a gente também aprende com a nossa ancestralidade que elas foram frutos de uma educação opressora, muitas vezes violenta , quebraram a sua auto-estima mas elas nunca deixaram de lutar, elas permanecem dentro de nós, quando nos posicionamos de forma efetiva, não apenas no trabalho, e muitas de nós que escolhemos ser donas de casa, sermos as que educam os filhos fora das redes perversas do machismo que mataram e matam milhares de mulheres no mundo, que é um lugar homofóbico, racista e um materialismo selvagem e cruel, somos nós as mulheres que curam outras mulheres nos tornamos uma irmandade, nos tornamos fortes, e é esse Brasil de mulheres fortes que buscamos conhecer e e reconstruir.
O feminismo negro não é só uma modinha, uma fase, é sim uma fase onde nos reconhecemos como unas, sim, a nossa igualdade está na nossa luta contra qualquer coisa que nos afastem desse lugar de fala, não basta ser antirracista, é preciso agir como.
O feminismo é só o primeiro passo, porque somos nós mulheres que geramos o mundo, a nossa força feminina, a nossa energia que cria e que educa, somos nós mulheres que deixamos os nossos corações em nossos filhos, é de nós que nasce a alma, que nasce e que ouve o primeiro choro, que faz crescer a esperança ainda dentro de nosso ventre, é a primeira voz ouvida, é o primeiro alimento, é de nós que se doa o sangue, é de nós que tudo que é gerado é dividido depois do nascimento, porque sabemos que a quem damos a luz vai ajudar a povoar o mundo, que vai contribuir o mundo e que juntos podemos mudar o que já não estava bom, nos é dado o dom da esperança, nos foi dado a missão de gerar, e vamos gerar sim, uma revolução, para que o que tiver de ser, será!!!
Há literatura infantil que está brilhando nas escolas, há diversas biografias que não ignoram o passado, eu não sei muito, mas sinto que podemos estarmos juntas em qualquer lugar, para que tudo que vivemos seja retratado como algo que vivemos para engrandecer as nossas histórias, a vida não é apenas um simples recorte de tecidos e que juntamos, é um colcha de retalhos que aquece, que não ignora uma as outras, a história do Brasil foi uma história que começou triste, com a escravidão, com lutas constantes para que nós hoje possamos entender que todos somos um, que conseguimos melhorias porque lutamos, porque queremos algo de bom, que não aceitamos coisas piores do que já vivemos.
A história do Brasil foi uma história de escravidão, onde permaneceu por muito tempo escondido, e que fizeram de conta que foi parte do passado, mas esse passado, foi o nosso começo, foi a parte onde foram construídos preconceitos, onde quiseram aniquilar e destruir culturas, esconder algo tão grandioso como a nossa própria história, deixaram que acreditemos que não existe mais, mas ainda existe, ainda existem pessoas que não conseguem aceitar que as nossas diferentes raças povoam o mundo e que devemos gratidão a grande Mãe Africa, devemos gratidão aos que foram escravizados, aos que lutaram contra a escravidão, devemos sim a eles que nos transformaram nessa nação maravilhosa, amorosa e cheio de esperança, fé... Há de um dia que todo o nosso passado está as claras, conheceremos a nossa história real, sem vírgulas e pontos finais que não nos fizeram a entender direito.
Haverá um dia em que a paz será a nossa maior bandeira, e que todos poderão se abraçarem de maneira verdadeira e não apenas para as fotos que ficam penduradas nas paredes, somos uma nação de iguais que se sentem a parte, que não se mistura, mas isso ai mudar, não será hoje para amanhã, mas será num futuro onde todos nós daremos graças as nossas vivências, as nossas lutas e reconstruiremos nessa história para contarmos as nossas novas gerações de como conseguimos vivermos realmente como uma nação, não como uma nação qualquer,mas a primeira entre tantas que realmente consegue viver em paz!!!