Quando as minhas palavras se tornarem mudas e minhas mãos já não puderem tocar a vida, vou me lembrar do que eu vivi.
Vou me lembrar das tardes na campinas e das flores amarelas do meu caminho.
Dos beijos de brisa e dos meus banhos de cachoeiras.
Da chuva que me arrasta para a rua.
Dos pés descalços, das mãos cheias de argilas.
Das danças de chocalhos e dos sinos que embalavam meu canto.
Dos cochilos no colo da minha mãe e do caminho das formigas no melado.
Das palhas secas do milho e da bananeira no quintal.
Das festas de máscaras e do vestido dourado costurado a mão.
Das travessuras tarde da noite.
Das madrugadas depois de ouvir histórias assombradas.
Do pão sem migalhas e dos carnavais , dos confetes e das ruas vazias voltando das festas.
Dos amigos que se foram, dos amigos que ainda não conheci e dos que eu não percebi a presença.
Vou sentir saudades dos cachorros que me morderam e das galinhas da minha avó.
Do cheiro de chás, e das brigas por causa dos pratos quebrados.
Da chaleira e do som das panelas de pressão.
Dos passos na escada nas madrugadas em que eu não queria dormir.
Do carrinho de rolimã.
Dos joelhos ralados e dos filhos que deixei nascer dentro de mim.
Dos cinco que vivem ainda em mim.
Das noites perdidas por causa das mamadeiras mornas.
Das gripes, dores de barriga e de seus caminhares ainda no começo da vida.
Ah, como é gostoso o cheiro dos filhos crescendo.
Depois dos cabelos grisalhos, das lições de vida e dos chinelos que voavam debaixo da cama.
Hoje , somente hoje quero esquecer que não foi de tudo momentos bons.
A gratidão por tudo me torna melhor do que eu fui.
E eu aceito a vida como é.
Bela, divina ,fantástica.
Extraordinária e infinita.
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